sexta-feira, abril 22, 2011

Dormindo com o inimigo [1]

Depois de ter andado meses a mostrar-se disponível para ir à Portela receber com bandeirinhas os homens do FMI, o PSD não tem mais nada a propor: como viria Passos Coelho a dizer, o programa do PSD será igual ao do FMI.

Só isso explica que, quando se encontrou com o primeiro-ministro, Passos Coelho não tivesse adiantado nenhuma proposta. Em vez disso, entregou um papelucho repleto de perguntas — cujas respostas o Jornal de Negócios trazia no dia seguinte pela módica quantia de 1.60€.

Com tantos gabinetes de estudos, think tanks, institutos Sá Carneiros e afins, o PSD disse então que precisava de informação que consta da documentação oficial publicada. E se algumas perguntas são absolutamente patetas (v.g., número de funcionários por ministério em 2006), outras há que revelam má-fé: por exemplo, a que instituições foram atribuídos subsídios. É evidente que foram atribuídos às IPSS, mas, se levarmos a investigação mais longe, teríamos de entrar na São Caetano para saber o que é que os estarolas fizeram com a subvenção estatal.

Com a apresentação destas perguntas, o PSD comporta-se como se fosse uma delegação estrangeira que vem a Portugal fazer uma avaliação da situação económica. Ou, então, revela mais uma manifestação de esperteza saloia através da qual julga que, fazendo perguntas, impressiona a populaça.

Quando é preciso apresentar soluções, o PSD entretém-se a fazer perguntas retóricas.

Vale a pena rever o debate que então ocorreu na SIC-N entre António Costa Pinto, Helena Garrido e Nicolau Santos [cerca de 26 minutos] — em que cada um deles parecia estar mais surpreendido do que os outros com a posição assumida por Passos Coelho. Aqui fica uma parte do debate, com uma intervenção de Nicolau Santos [entre os 4m42s e os 8m53s]:




NS: “Isto (as perguntas que o PSD entregou ao Governo) é claramente estar a brincar com uma situação gravíssima para o país”.
NS: “O PSD acha que estes senhores (do FMI, BCE e da CE) estão mancomunados com o Governo e vão esconder alguns esqueletos no armário das contas públicas?”
NS: “Acho inconcebível a brincadeira que estão (o PSD) a fazer numa altura gravíssima para Portugal”.
NS: “Uma irresponsabilidade levar o país para eleições sem aprovarmos o PEC IV e agora termos de aprovar este PEC em condições muito mais difíceis”.

2 comentários :

Farense disse...

Infelizmente há poucos jornalistas e comentadores tão lucidos e corajosos como o Nicolau Santos e a Helena Garrido. Os factos são factos e n vale a pena manobras de diversão para esconder o essencial: a troika está cá porque a oposiçao comandada pelo PPD chumbou o PEC IV. O resto sao cantigas. O rapaz de Massamá pensa que com joguinhos de mau gosto e um comportamento de irresponsabilidade sem limites, pode mais facilmente chegar ao poder. Mesmo que assim fosse pergunta-se: que lucraria o país com isso? Que falta de maturidade politica, de responsabilidade. Que oportunismo e incompetência!

Anónimo disse...

vale a pena ver todo o debate.

pode ser trágico para o país que esta gentinha que tomou conta do PSD lidere um governo (Passos, Relvas, Moedas, Leite Campos);

não deixa de ser triste, ver no seio deste PSD o Catroga: será que concorda com tudo o que fazem, ou será que, se ele não estivesse lá, ainda seria pior?