sexta-feira, outubro 07, 2011

O outro buraco

• Fernanda Câncio, O outro buraco:
    ‘Distribuído gratuitamente, o JM [Jornal da Madeira] é, apesar de posse formal da diocese do Funchal, suportado pelo Governo regional. Este, além de gastar milhões de euros em subvenções directas, agracia-o ainda com profusa publicidade. O resultado é o de sufocar a concorrência, atentando também, como se afere na leitura do JM, ao princípio essencial da independência dos órgãos de informação face ao poder político - não há grandes diferenças entre aquilo e um órgão oficial de partido. Mas, num país nos últimos anos obcecado com a liberdade de expressão, a muito peculiar realidade da Madeira passou ao largo - descontada, como quase tudo o que diz respeito à região, como mais "uma questão de estilo".

    A ERC e o Sindicato de Jornalistas bem chamam a atenção para os constrangimentos ao jornalismo livre na Madeira. Mas até o facto de governantes e dirigentes do PSD insultarem ou coagirem jornalistas parece ter entrado na banalidade. No entanto, esta semana, a Comissão Nacional de Eleições notificou o director do DN Madeira de que deu provimento a uma queixa do PSD contra o jornal, por "tratamento discriminatório". A CNE incluiu nessa categoria dois artigos de opinião, do director e do subdirector, e três peças noticiosas, apontando apenas num dos casos o que considera "valência desfavorável em relação à candidatura do PSD com inclusão de juízo de valor" - o qual, por acaso, inclui uma citação de partidos da oposição.

    Mas, por mais extraordinária que surja esta decisão da CNE, quem sabe é sinal de que finalmente alguém se preocupa com o pluralismo noticioso (e até opinativo) na ilha, e que não cai tudo no buraco sem fundo do "estilo". A não ser, claro, que seja o contrário.’

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