• Pedro Silva Pereira, Recuar para onde?:
- ‘Para começo de conversa, convém recordar a alguns espíritos mais desatentos que na origem desta súbita convulsão politica e social contra o Governo não está nenhuma medida de austeridade destinada a reduzir o défice nas contas públicas, ou a cumprir o Memorando a que o País está vinculado, ou sequer a satisfazer uma exigência da ‘troika’ ou do Tribunal Constitucional.
Por muito que isso custe aos que se especializaram em deitar culpas de tudo para os outros, e em especial para o governo anterior, o que está aqui em causa, antes do mais, é uma medida livremente escolhida pelo actual Governo: descontar um mês de salário a todos os trabalhadores para oferecer às empresas (sejam elas quais forem) a redução da Taxa Social Única (TSU). Foi contra esta injustiça grosseira e contra este monumental disparate económico que o País inteiro se levantou.
Acontece que esta medida, mais do que qualquer outra, teve o efeito de revelar aos portugueses a verdade sobre quem nos governa. Os portugueses puderam ver, em directo e ao vivo, que o primeiro-ministro tentou justificar esta medida insuportavelmente violenta para as famílias com estudos que até hoje ninguém viu e com previsões em que ninguém acredita, nem pode acreditar - sobretudo depois de se perceber que os resultados pretendidos dependem todos do sucesso dos apelos pungentes do primeiro-ministro aos empresários para fazerem o favor de baixar os preços...
Mas esta medida não revelou apenas a ligeireza, a impreparação e falta de bom senso do primeiro-ministro: expôs também, à luz do dia, e de forma definitiva, toda a verdade sobre aquela que é a orientação política que guia desde o início a acção do Governo PSD/CDS: uma estratégia clara de empobrecimento, executada através de uma austeridade brutal, muito além da ‘troika', sem nenhum horizonte que não seja um decepcionante modelo de baixos salários. É a tomada de consciência colectiva desta estratégia absurda e sem futuro - escandalosamente escondida na última campanha eleitoral por entre muita conversa contra o aumento dos impostos e as "gorduras do Estado" - que suscita agora uma indignação profunda, que ameaça gravemente as condições de aplicação do programa de assistência financeira e já abala a própria coligação.’
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