segunda-feira, fevereiro 11, 2013

"Regra de ouro" ou austeridade cega?

• Rui Peres Jorge, "Regra de ouro" ou austeridade cega?:
    ‘Segundo a Lei que está a ser debatida no Parlamento - e que traduz os princípios do pacto orçamental ratificado por cá no Verão passado - os Estados-membros terão de apontar para contas públicas sempre próximas do equilíbrio (saldo estrutural de 0,5% do PIB). Esta opção, só por si, é questionável: pode limitar a capacidade nacional de estabilização económica durante crises e manietar a vital soberania política de um País.

    Mas o mais grave na regra que será aprovada com o apoio do CDS, do PSD e do PS não é essa dimensão, mas antes a imposição de um ritmo pré-definido de redução de dívida pública para os países que ultrapassem o místico valor de 60% do PIB. No caso português (que com a crise ultrapassou os 120% do PIB), os especialistas orçamentais do Parlamento estimaram que tal exigirá que, após o programa de ajustamento em 2014, se tenham de registar excedentes orçamentais significativos em todos e cada um dos próximos 20 anos, um desempenho que apenas dois países da Zona Euro conseguiram fazer desde os anos 70. O objectivo é que o País chegue a 2035 com um "stock" de dívida nos 60% do PIB: uma redução de 60 pontos em apenas duas décadas. Para se ter uma ideia do irrealismo desta meta, compare-se com o caso sueco, agora na moda: em 20 anos, com uma desvalorização cambial pelo meio a impulsionar a economia, o país reduziu a dívida em 30 pontos.

    O Parlamento está a aceitar prolongar por uma geração uma política de austeridade cega, que desdenha a avaliação nacional da realidade económica e das condições de vida da população, e aceita enfraquecer de forma decisiva a pouca soberania de política económica que lhe resta.

    Isto acontece num país com baixos níveis de educação e inovação, que se insere como um dos mais pobres num mercado único que não permite políticas fiscais e industriais que o favoreçam, e que já prescindiu das políticas monetária e cambial para entrar numa união monetária sem transferências orçamentais.

    Não está em causa a necessidade de regras e de disciplina no contexto de aperfeiçoamento da união monetária Mas, como as histórias política e económica já demonstraram tantas vezes, nada de bom pode nascer de regras e objectivos que perdem a noção do bom senso. "Regra de ouro" ou austeridade cega?’

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