quinta-feira, abril 18, 2013

"José Sócrates acertou na mouche na definição do novo comportamento de Belém ao afirmar que estávamos perante o tão enigmático e parcialmente desejado governo de iniciativa presidencial"

• Francisco Assis, Oxalá Seguro nunca ceda à tentação de voltar atrás [hoje no Público]:
    'Se a Europa está mal, Portugal encontra-se numa situação especialmente dramática. O Tribunal Constitucional ao optar pela declaração de inconstitucionalidade de um conjunto não despiciendo de normas orçamentais introduziu uma nova variável na equação política portuguesa. Perante tal ocorrência, que não era, aliás, imprevisível, o Governo tinha duas saídas possíveis: ou se acantonava num estatuto de vítima e insistia no caminho até então prosseguido ou, pelo contrário, aproveitava a ocasião para tentar alargar a sua base social e política de apoio e colocar novas exigências no quadro europeu. Pedro Passos Coelho optou pela solução mais simples, o que traduz a sua obsessão ideológica e revela as suas limitações políticas. Em lugar de procurar uma significativa ampliação do consenso interno e de o utilizar como instrumento de afirmação de uma nova pretensão externa, optou por reiterar uma opção comprovadamente nefasta do ponto de vista dos seus resultados práticos. Passos Coelho não se liberta do alter-ego Vítor Gaspar e este não se afasta dos dogmas que o separam de uma lúcida interpretação da realidade. Por isso mesmo, a remodelação governamental operada na semana passada constituiu um acto falhado e a expressão de uma teimosia plenamente assumida. O Governo não muda em nada o que é essencial, persiste numa caminhada suicidária e parece disposto a imolar o país consigo.

    O Presidente da República, que nos últimos meses tinha dado sinais de uma independência salutar, acabou por se comprometer incompreensivelmente no fatídico encontro daquele sábado ao fim da tarde. Ao outorgar o seu beneplácito relativamente gratuito a governantes em estado de desespero, admitiu confundir o seu destino com o deles. De uma penada transitou de um estatuto reconhecidamente independente para uma posição de grande debilidade institucional. José Sócrates, recém-regressado à vida política portuguesa, acertou na mouche na definição do novo comportamento de Belém ao afirmar que estávamos perante o tão enigmático e parcialmente desejado governo de iniciativa presidencial. Para o bem e para o mal, Aníbal Cavaco Silva tornou-se refém do destino de Pedro Passos Coelho; ora, isso é o pior que pode acontecer a um Presidente da República.

    António José Seguro parece ter percebido que pouco teria a ganhar com uma ligação preferencial ao Palácio de Belém. É de admitir que no passado tivesse procurado cultivar um bom relacionamento institucional pelas razões mais nobres que a vida política pode comportar. Já terá porém inferido que um excesso de proximidade lhe poderia ser fatal. Tal constatação libertá-lo-á, decerto, para o exercício da função que lhe compete na actual configuração da política nacional, a de se afirmar como líder de um verdadeiro projecto alternativo assente numa visão diferente da política europeia e numa perspectiva original das prioridades nacionais. Não por acaso, António José Seguro revelou ontem, na forma como reagiu à ardilosa tentativa de envolvimento político lançada pelo primeiro-ministro, uma desenvoltura e uma sagacidade que lhe poderão conferir um novo estatuto na política portuguesa. É certo que o país precisa de consensos, mas é cada vez mais óbvio que estes só poderão ser alcançados num novo contexto institucional e com uma profunda alteração do leque de protagonistas da direita política portuguesa. Ao agir de forma clara e incisiva, António José Seguro projectou-se definitivamente num novo ciclo da vida política nacional. Oxalá nunca ceda à tentação de voltar atrás pela simples razão de que arrastaria o país com ele.'

1 comentário :

Ze Maria disse...

A canalha "comentadeira" que não me apetece escrever o nome dos bois, já anda a carpir sob a teoria do entendimento. Cambada de invertebrados!!