quarta-feira, abril 24, 2013

O "consenso"

José Pacheco Pereira, hoje na Sábado:
    ‘Se o primeiro-ministro viesse dizer (fazer é outra coisa) que quer negociar com o PS determinadas áreas da governação, ou seja co-governar, isso implicaria todo um tipo de atitudes que o Governo nunca teve e também não está a ter. Por exemplo, apresentar ao PS propostas de medidas, as "boas" e as "más" e não só as "más", antes de tomar compromissos com a troika. Isso não existe, nem Gaspar deixava, porque isso implicava perder o seu poder.

    O que acontece é que o Governo compromete-se com a troika e depois quer o "consenso" do PS para encontrar formas de implementar as políticas já definidas, sem as contestar no conteúdo. Elas são sempre apresentadas como inevitáveis, ou seja, indiscutíveis; para o PS fica apenas ter um papel (e nem esse tem tido) de dizer se se corta nos professores ou nos enfermeiros, se se despede na função pública ou se se aumenta as taxas moderadoras. Este tipo de "consenso" teria sido possível há dois anos, hoje é impossível.

    Vir acenar com a "viragem" para a "economia" - e uso as palavras entre aspas porque as uso no seu envenenado curso corrente - também é poeira para os olhos. O Governo pode vir a anunciar algumas medidas de efeito escasso e futuro na economia, mas aquilo a que dedica o grosso dos seus esforços é a aprofundar a austeridade com pacotes de cortes uns atrás dos outros, para tentar encobrir os falhanços das medidas anteriores, com um efeito recessivo sempre muito mais vasto, como aliás admite o Banco de Portugal. O que estraga é sempre muito mais profundo do que o que pretende ajudar a salvar.’

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