domingo, maio 26, 2013

Tiro de pólvora seca (e erra o alvo)

A fazer fé no Expresso, deu um trabalho dos diabos juntar Gaspar e o Álvaro à mesma mesa. Com um a querer continuar a apertar o torniquete e o outro a pretender aparentemente dar uma folga à economia, foi preciso inventar uma fórmula que não desse a ideia de se estar a assistir a uma cambalhota do Governo: “Chegou o momento do investimento. Repito: depois do ajustamento, chegou o momento do investimento”, disse, sem o menor embaraço, o delegado dos credores externos, poucos dias após se ter comprometido com a troika a fazer cortes de 4,8 mil milhões de euros.

Gaspar e o Álvaro exibiram-se, na conferência de imprensa de quinta-feira, como se tivessem descoberto a pólvora. Acontece que o “crédito fiscal ao investimento” é um instrumento que existe desde os tempos da contribuição industrial, imposto que antecedeu o IRC. E continua a existir.

Há que observar a medida para além do fogo-de-artifício. Trata-se de uma medida apelativa quando a grande maioria das empresas apresenta prejuízos (apesar da dedução à coleta de IRC poder ocorrer durante cinco anos)? Investimentos de envergadura podem ser concebidos, lançados e concluídos em sete meses (a menos que se esteja perante uma norma feita à medida para projectos em carteira, questão que não escapou a Silva Peneda)?

Mas o que mais surpreendeu nesta sessão de propaganda do Governo foi a circunstância de Gaspar fazer um apelo ao investimento depois de ter colocado o país numa trajectória de empobrecimento galopante e quando as exportações estão a estagnar. Vai-se produzir mais para vender a quem?

Vítor “não eleito coisíssima nenhuma” Gaspar sabe melhor do que ninguém que o empobrecimento — e, portanto, a diminuição da procura interna — não será estancado, sobretudo se os cortes nos rendimentos dos funcionários públicos e dos pensionistas se concretizarem. Ben Bernanke, presidente da Reserva Federal, diz tudo em poucas palavras: "If firms see more demand coming in the door, they will expand capital and labor." O resto é propaganda e desorientação.

1 comentário :

cavaco@bpn.pt disse...

Não por acaso, uma semana antes dizia o Pinguço Doce que estava para re-localizar umas fabriquetas de re-embalagem de detergentes porque o pó já não estava a render! O Silva Peneda é que os topou logo!