domingo, junho 02, 2013

Carta aberta às novas gerações

• Nicolau Santos, Carta aberta às novas gerações [ontem no Expresso/Economia]:
    ‘O discurso do Governo está a produzir o inevitável: colocar novos contra velhos, desempregados contra empregados, trabalhadores no ativo contra reformados, recibos verdes contra trabalhadores com contrato sem termo, trabalhadores do sector privado contra funcionários públicos. É um caminho perigosíssimo que assenta em mentiras atuais e falácias históricas.

    É, por isso, fundamental que alguém desmonte algumas mentiras que são dadas como adquiridas pela nova geração (que tem menos de 35 anos e tem entre os seus defensores o meu brilhante amigo Henrique Raposo¹).

    1ª mentira — Não é verdade que a geração anterior tenha vivido muito melhor do que a atual. Pelo contrário, a infância e a juventude da generalidade da atual classe média que anda na casa dos 50 teve menos bens materiais e culturais do que a atual. Convém lembrar que em 1974 mais de metade do país não tinha esgotos, nem água canalizada, nem energia. Que muitos meninos iam para a escola descalços (como lembrou Miguel Sousa Tavares numa recente entrevista). Que a percentagem de analfabetismo era de 35%.

    Que os mancebos tinham de cumprir serviço militar em cenários de combate. Que havia censura de palavras ditas e escritas, de livros, de filmes, de discos. Que ninguém viajava metade do que hoje já viajou a nova geração. Que toda a gente andava de transportes públicos e fazia biscates ou acumulava dois empregos para ter dinheiro até ao fim do mês. Que não havia Serviço Nacional de Saúde e apenas começava a existir um incipiente sistema de segurança social. Que Portugal era mais o norte de África do que um país europeu. E que o país era tão pobre que obrigou a sucessivas vagas de imigração, nos anos 50 para a América Latina, nos anos 6o para França (para fugir à pobreza), nos anos 70 para a Europa para fugir à guerra.

    2ª mentira — Não é verdade que seja a nova geração que esteja a pagar sozinha a fatura desta crise. Toda, repito, toda a sociedade está a pagar a fatura desta crise. Os reformados têm sido severamente atingidos. Os funcionários públicos tem sido maltratados, vilipendiados e sofrido tratos de polé nas suas carreiras e nos seus rendimentos. Há milhares de empresas que têm fechado as portas e mais de 900 mil trabalhadores do sector privado que estão no desemprego. Os salários e direitos dos trabalhadores por conta de outrem tem sido reduzidos de forma drástica. É verdade que há 40% de desemprego jovem. Mas há muitíssima gente com mais de 50 anos que vive hoje amedrontada, de forma bastante mais precária, angustiada com o futuro, com medo de ficar sem rendimentos, de não ter acesso a medicamentos ou cuidados médicos — e que a última coisa que fará é deixar de apoiar até onde puder a nova geração.

    3ª mentira — Não é verdade que a nova geração esteja a pagar as chorudas reformas da velha geração. A generalidade dos reformados descontaram toda a vida, na base de regras definidas pelos sucessivos governos, para ter uma reforma na velhice. É verdade que há quem não tenha descontado e é verdade que houve grupos sociais que retiraram para si benefícios indevidos. Mas para a generalidade das pessoas não está nessa situação.

    Todas as sociedades assentam em pactos intergeracionais. Melhorá-lo, corrigi-lo, sim. Rasgar essa pacto é muito pouco inteligente. A nova geração está a beneficiar de um conjunto de investimentos que foram suportados pelos impostos da velha geração e que tornaram a vida em Portugal bem melhor do que aquela que existia em 1974 — mesmo que o atual discurso político tente esconder esta verdade.’

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¹ Não é uma questão relevante, mas tem a sua piada: o artigo de Nicolau começa por uma alusão ao “meu brilhante amigo Henrique Raposo” e acaba a considerar “muito pouco inteligente” a atitude dos que querem “rasgar o pacto intergeracional”, ou seja, as ideias que Raposo papagueia semanalmente no Expresso.

5 comentários :

Fernando Romano disse...

Que passou na cabeça de Nicolau Santos para conspurcar tão oportuno artigo com o nome de HM? Não havia necessidade.

Kruzes Kanhoto disse...

Descalços para a escola em 1974?! Nem, sequer, dez anos antes!

cavaco@bpn.pt disse...

@Kruzes Kanhoto: No final da década de 60, 90 % das pessoas que circulavam na Av.Roma ia descalça, não eram crianças eram adultos!! Só alguém que não sabe do que fala pode tentar argumentar que passsados 5 anos não havia crianças a ir para a escola descalças! Era a regra e não a excepção! Infelizmente a diferença é tão gritante que qualquer ignorante nascido depois de 74 não acredita que isto parecia a Albânia! Ler um livro que não seja o Tio Patinhas de vez em quando não lhe faria mal nenhum!

EGR disse...

Não vale a pena insistir com o Raposo porque tudo que exceda a mesquinhez de espirito a paroquia dele, a aldeia dele, o bairro dele mais aqueles tiques de insolencia típicas dos medíocres,é totalmente inutil.
Ele pura e simplesmente não entende.

Anónimo disse...

O Raposo, tal como o Monteiro, não passa de um comentadeiro taxista.
Fala por ouvir falar, não faz ideia sobre o que está a falar, mas gosta bastante de mostrar o quanto é mesquinho, preconceituoso e em algumas ocasiões, burro.
Infelizmente, é gente desta que nos governa. Gente de frases feitas e ditos populares, que nunca na vida estudou o que quer que fosse para além do superfecial. Nunca foram ensinados a faze-lo.São os mediocres desta vida.