• Rui Pereira, O enigma não existe:
- ‘Entre as perguntas que todos fazemos acerca do nosso futuro político e as respostas dadas pelo Presidente da República, existe uma relação geométrica de tangência, ou seja, há apenas um ponto de contacto. E a prova empírica está à vista: ninguém sabe se a remodelação ainda poderá ser aceite, ninguém garante que não haverá eleições antecipadas mesmo antes de junho – ou melhor, antes de setembro – de 2014 e ninguém se arrisca a prever as consequências da eventual ausência do "compromisso de salvação nacional" almejado por Cavaco Silva.
Quando se impunha uma intervenção clarificadora e inequívoca para não aprofundar a incerteza e a angústia dos portugueses, o Presidente da República criou um verdadeiro enigma em benefício de politólogos e comentaristas. A estimável ideia de "compromisso de salvação nacional" foi lançada fora de tempo, no contexto da procura de uma solução governativa de curto prazo. E o diálogo para alcançar o compromisso foi vedado à partida (em nome de presunções de indisponibilidade ilegítimas) a dois partidos que representam cerca de 13% do eleitorado.
No ‘Tratado Lógico-Filosófico’, Ludwig Wittgenstein diz que "o enigma não existe", porque, "quando somos capazes de fazer uma pergunta, também somos capazes de lhe dar resposta". Talvez o Presidente da República não esteja a ser capaz de fazer perguntas e, por isso, não consiga obter respostas. Para além de ser necessário que esclareça, com caráter de urgência, o que pretende fazer, afinal, quanto ao Governo e à remodelação, talvez devesse questionar-se mais sobre o nosso futuro: como preservar o Estado social e promover o crescimento económico?’
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