quinta-feira, outubro 04, 2012

Moções de censura

A dimensão da manifestação de 15 de Setembro não abriu apenas um colossal rombo na maioria de direita. Deixou também a esquerda radical à nora, que se viu ultrapassada pelos acontecimentos: convocados a dizer “não à troika”, os manifestantes corrigiram espontaneamente a mira, apontando-a à demissão do Governo. As moções de censura apareceram como um atalho para recuperar a iniciativa — tanto mais que coincide com a realização do Congresso Democrático das Alternativas, no qual o PCP não se fará representar.

Em todo o caso, o que é diferente não pode ser observado de forma igual. Quando as primeiras palavras são uma referência aos “36 anos de política de direita”, a moção do PCP não está à procura da unidade da esquerda. Está apenas a dividir para procurar reforçar as suas próprias hostes. Justificaria a sua rejeição liminar.

7 comentários :

Fernando Romano disse...

Pela primeira vez pessimista e com profunda sensação de derrota.

Por isso, um desabafo...

O centro-esquerda averbou ontem humilhante derrota, com repercussões inimagináveis neste momento. Os discursos da esquerda em reação ao pacote de impostos anunciados por este governo, um poderosíssimo murro no estômago do povo, foi uma camartelada na testa da esquerda portuguesa, que a deixará à nora por muitos anos, em lutas intestinas. Os erros e o oportunismo sem vergonha, em política, pagam-se caro. PCP e BE foram os grandes responsáveis. O sistema partidário no seu conjunto, tomado de assalto por gente, muita dela, transversal a todos os partidos, sem convicções de espécie nenhuma, oriundas do aparelho de Estado e do universo das profissões liberais, estão prisioneiros de interesses pessoais e de grupos. As moções de censura anunciadas são uma tentativa de saltar por cima das suas próprias cabeças.

Ontem, 3 de Outubro de 2012, da luta renhida que se travou nos últimos anos sobre a construção do próximo ciclo histórico da nossa democracia, coisa que nunca se fez ao longo da nossa história, e no qual se empenhou a fundo o anterior Primeiro-Ministro, numa ambição que surpreendeu todos, saíu vitoriosa esta direita revanchista nos braços do capitalismo financeiro internacional, enquanto o centro-esquerda capitula por um prato de lentilhas, virando-se para dentro.

A direita ganhou ontém. Ninguém o quer assumir. Mas a verdade está aí à frente das fuças desta pequena burguesia citadina e esclarecida e peripatética..., e oportunista, que se diz de esquerda, tomada de funcionários públicos e milhares de profissionais liberais mancomunados com a Vaca Nacional (e mai-los seus familiares).

Foi um ataque oportuno e devastador, perante a ausência de resposta, clamada nas ruas pelas massas populares.

PCP e BE deram sinais de que seriam bons "polícias" da revolta do povo, meteram a língua e armas democráticas no olhíssimo do cu, satisfeitos com o recuo na TSU, mentira das mentiras, já que ela vai ser aplicada na mesma. Usam agora da demagogia rélis.

O PS mostrou que tem medo da rua, que o assusta o povo, e já não tem taramanhos para Alameda nenhuma. Mário Soares, com a sua experiência, sinalizou que a rua era o lugar, ao dizer que este primeiro-ministro devia cair, e com ele o governo.

No ano das próximas eleições legislativas, este governo de traidores terá um significativo saco azul para o mercado de votos, uma imprensa domada e amansada, e uma esquerda aos coices entre si.

O desprezo com que esta gente do poder, e representada no poder, trata o País e a democracia, o povo e a oposição, fica bem expresso na ausência do primeiro-ministro no anúncio destas medidas.

A vida está difícil... Bem se compreende!

Nas próximas eleições autárquicas lá teremos 500 mil candidadatos, mais de 300 mil serão oriundos do aparelho de Estado... - da nomenklatura lusitana, da esquerda e da direita.

E o povo não tem, nem no poder nem na oposição, quem dê eco à sua voz.

Pois se o governo falhou em toda a linha até aqui, pois se a fome se vai instalar em milhões de portugueses....

Que diabo, esquerdalhas da m...., onde está a alternativa?

Até aqui restava-nos a esperança de estarmos na UE para travar a direita ultramontana portuguesa. Mas até essa significativa proteção está a ser devolvida por esta sacanagem que nos governa.

Andam agora transfugas, ressabiados e apóstatas, oportunistas medonhos! em congressos para discutir a esquerda!

Estamos ....... e mal pagos.



james disse...

Subscrevo integralmente este post.

Adérito Nunes disse...

Que eu saiba o PCP e o BE votaram ao lado do PSD.

Aí está. Semearam e... colheram.

São também responsáveis do que se está a passar...

Anónimo disse...

É tempo de uma vez por todas as pessoas perceberam o seguinte : a austeridade é necessária e desde que estes sacanas entraram no pote já não nos livraremos dela por muito tempo.
Entramos no túnel mas só de lá vamos sair com alguém que saiba fazer contas.
Como se provou pela execução orçamental e pelo rombo colossal na segurança social, estes não sabem sequer a tabuada. Como tal urge atira-los borda fora e colocar um maquinista que perceba do oficio.
Se continuarmos com hesitações e com esta gente ao volante bem podemos procurar a saida. Ela nunca surgirá, pois na ansia de emifrar o povo, estão a deixar o comboio descarrilar.
E a única saida para um comboio que descarrilou é o estatelamento contra a parede.
Sem espinhas.
Cabe ás pessoas, e á rua, agarrar a casa do maquinista , mandar estes imbecis borda fora e optar por um rumo com bom senso e cabeça.

Anónimo disse...

O PS pensa que é possível ser de esquerda sem criar desconfortos à rotina do sistema - é por isso que o PS é de direita. E muito bem fez o PCP em sugerir isso mesmo. Se quiser voltar à sua matriz de esquerda o PS tem de assumir que terá de ser desconfortável para os poderes instalados - que não são socialistas, não o são os banqueiros, como não o são os financeiros nem o grande capital que tem, ao contrário dos trabalhadores e dos desempreagados, o ouvido dos governos.

Como o PS não quer fazer isto e quer dizer-se de esquerda, só poderá ser talvez uma esquerda da direita, que é o que quer dizer o centrismo onde o PS se instalou faz muito tempo.

João.

Anónimo disse...

Se não se for de centro nunca se conseguirá juntar interesses dos dois lados e pô-los a negociar.
Já é tempo de as pessoas perceberem que não há direita nem esquerda no mundo actual , são conceitos demasiado simplistas para as civilizações e sociedades modernas.
É preciso bom senso em quantidades industriais mas parece que na altura em que ele é mais preciso toda a gente se extrema e puxa o seu lado do lençol.
Assim a coisa vai rasgar pelo meio e vai rebentar nas fuças de todas as partes.

Anónimo disse...

"Se não se for de centro nunca se conseguirá juntar interesses dos dois lados e pô-los a negociar."

Não há interesses dos dois lados, ou seja, há um lado que tem o poder (o grande capital) e outro que não tem (o trabalho e o pequeno e médio capital).

O segredo do capitalismo actual é simples: socialismo para o grande capital, capitalismo para o povo e o pequeno e médio capital. Quer dizer, acção directa dos governos PS/PSD/CDS para dimunuir os riscos de grande capital à custa do aumento dos riscos do trabalho e do pequeno e médio capital - mas se verificar, vai ver que no plano da conversa [da treta] é o grande capital que fala nas virtudes do risco - ai não! quando o risco é constantemente desviado de seu caminho para o colo dos outros, é fácil falar nas virtudes do risco.

João.