sábado, abril 06, 2013

A separação de poderes segundo Marques Guedes


Por lamentável coincidência, coube a Marques Guedes, filho do primeiro presidente do Tribunal Constitucional, ler a declaração do Governo sobre o acórdão deste tribunal. À cabeça, disse o secretário de Estado, como se fosse a coisa mais natural do mundo, que o Governo discordava do Tribunal Constitucional, embora o respeitasse.

A primeira dúvida é o que significa este tal respeito que o Governo tem pelo Tribunal Constitucional. Significa que o Governo não vai marchar sobre o palácio Ratton? De qualquer modo também não se vê como poderia fazê-lo, porque a tropa não liga nada ao ainda ministro da Defesa e os polícias, coitados, têm mais que fazer na protecção das altas entidades governamentais, às quais a populaça anda com notória sede.

O certo é que o Governo não compreende o que significa a separação de poderes. É tão deslocado o Governo dizer que discorda do acórdão do Tribunal Constitucional como o seria o Tribunal dizer que discorda da política de privatizações do Governo. Com efeito, os membros do Governo devem pensar que o Tribunal Constitucional é uma espécie de conselho consultivo ao seu serviço e que deveria ter juizinho quando se trata de afrontar as normas propostas ou aprovadas pelo Executivo.

Mas este soberano desprezo pela independência dos tribunais já vem de longe. O alegado primeiro-ministro e a própria ministra da Justiça já se encarregaram de exercer, de forma directa e descarada, pressões sobre o Tribunal Constitucional. E depois do chumbo do Orçamento do Estado para 2012, revelaram-se estudantes cábulas e reincidentes, cometendo intencionalmente o “erro” de discriminar funcionários públicos e pensionistas.

No meio desta situação, a história registará a atitude digna de um tribunal que não quebrou o seu juramento perante a Constituição da República. A responsabilidade pela crise, essa, vai direitinha para quem não soube, não quis ou não pôde criar alternativas de política económica e financeira que respeitasse a nossa lei fundamental.

4 comentários :

Anónimo disse...

Isto é gente sem educação e cultura democrática.
Filhos da merda reaccionária que devia ter sido saneada no 25 de abril. Permanentemente.
Deixaram-nos á solta, produziram esta prole como coelhos e agora é vêr estas gentes indecentes armados ao pingarelho , convencidos de que um novo potugal ás suas mãos irá nascer.
Pode ser que tenham azar...

Anónimo disse...

O texto é brilhante, Miguel.

Anónimo disse...

E por acaso o TC não escreveu que o Governo deveria ter optado por reformar o Estado em vez de cortar nos ordenados (tão fácil falar; como se tal pudesse ser feito em dois anos)? Essas opções não cabem ao Governo? O TC já palpita sobre gestão governamental?

Pinto

Anónimo disse...

A "mixórdia" não vai aceitar a douta sentença do Tribunal - vão dizer sim senhor, mas, acabam por fazer o seu inverso - já os topo a "rataria"

Zé da Adega