terça-feira, setembro 19, 2006

A palavra aos leitores




Do franchising à usura


A propósito de uma notícia no Diário Económico de hoje (Associação Nacional fecha acordo com BCP para garantir dívidas do Estado), o leitor Pedro B. Reis enviou-nos um e-mail, no qual analisa o último passe de mágica do patrão da holding “Associação Nacional de Farmácias” (ANF). Ei-lo:

    “O Dr. João Cordeiro certamente pensa que os farmacêuticos são burros, ou altruístas, ou então – sabe-se lá por que insondável motivo – considera que os tem completamente na mão.

    Então não é que, no momento em que o Governo se prepara para criar um fundo público que pagará a tempo e horas às farmácias sem qualquer encargo adicional, o Dr. João Cordeiro propõe a essas mesmas farmácias que, para atingir o mesmo fim, abdiquem de 1,5% (para a ANF) + 0,325% (para os bancos) da sua facturação?

    Só por muito amor à Associação Nacional de Farmácias, ou por falta de jeito para fazer contas, é que um farmacêutico entregará 1,5% da sua facturação à dita ANF, quando o Estado se compromete a pagar a tempo e horas e sem cobrar tal comissão.

    O argumento da ANF é que este esquema permite um pagamento ainda mais rápido: não nos 45 dias previstos (que, para os prazos de pagamento que se praticam no mercado, parece até bastante razoável), mas sim logo no mês seguinte. Muito bem, parece interessante.

    Mas vejamos um pouco melhor: quem antecipa o dinheiro são os bancos, que para isso recebem uma comissão de 0,325%; já a ANF, que não antecipa dinheiro nenhum (porque o Orçamento de Estado para 2006 a proibiu de se envolver na intermediação financeira), recebe uma comissão de 1,5%. Ou seja, a ANF recebe 1,5% – quase cinco vezes mais do que os bancos – para nada fazer.

    Ora, quando a ANF fazia directamente a intermediação financeira, antecipando o dinheiro às farmácias, até se poderia justificar que cobrasse uma comissão; mas agora, que a ANF não antecipa dinheiro algum, qual a razão para a referida comissão de 1,5%, isto é, com que legitimidade e para que efeito é que a ANF se propõe ficar com 1,5% da facturação de todas as farmácias? A verdade é que estes 1,5% não têm qualquer contrapartida!

    Trata-se, em suma, de um negócio autenticamente usurário. E há até um artigo no Código Civil a propósito destes negócios. É o art.º 282.º, que reza assim: «É anulável, por usura, o negócio jurídico, quando alguém, explorando a situação de necessidade, inexperiência, ligeireza, dependência, estado mental ou fraqueza de carácter de outrem, obtiver deste, para si ou para terceiro, a promessa ou a concessão de benefícios excessivos ou injustificados». É ou não o caso?

    Por fim, se há coisa que esta história revela é o seguinte: os bancos bastam-se com 0,325% para anteciparem o dinheiro. Então porquê pagar mais 1,5% à ANF, se as farmácias podem obter o mesmo resultado directamente junto da banca por um custo muito menor?”

Será interessante conhecer a opinião do Fórum Farmacêutico, que constituiu uma lista alternativa para concorrer aos órgãos sociais da Associação Nacional de Farmácias.

5 comentários :

Anónimo disse...

Demolidor. Parabéns ao Pedro Reis.

Anónimo disse...

Nem mais. Na mouche! Esse Cordeiro é um ladrão.

Anónimo disse...

O Cordeiro pode gostar mais de dinheiro, do que o macaco de banana. É um facto!

Mas, nós vamos querer ver o "espero" C. Campos a pagar a 45 dias, conforme promete.

Nós sabemos, como paga o Ministério da Justiça aos seus "prestadores"....a perder de vista!

E até sabemos, que o Ministro Teixeira não pagará mais dinheiro aos "adjudicatários de obras" até ao final de ano, para congelar o PEC!

Duas notas finais:

- Os "outros" é que faziam engenharia financeira, para congelar o déficit! Os "xuxalistas" fazem passes de mágica....é tudo a mesma m****.
- Já agora, qual é o prazo médio de pagamento do M. da saúde à Indústria Farmaceutica?

Anónimo disse...

Só uma correcção. A ANF não presta apenas este serviço...
Dá apoio a muitas áreas de gestão, informação, fiscal, informática, etc.
E cobra-se por elas.
Conhecem a gestão de uma farmácia? Então devem reconhecer que será dos negócios mais bem "tratados" no País. A informatização uniformizada é um serviço que tem custos.
O que não quer dizer que a ANF não continue a prestar esses serviços por 1% ou que alguns farmaceuticos (talvez os maiores, que os há pouco atendendo à dispersão da posse) optem por acederem a esses serviços por outra via (com outros custos)...

Peliteiro disse...

Já nem tenho paciência para explicar aquilo que parecem não querer entender.

O certo é que Correia de Campos criou um fundo que NUNCA SERÁ USADO!

Asssim, apontem, mais uma derrota para o Governo. Não acertam uma, até dá dó.

Correia de Campos na "luta" contra as Farmácias não acerta uma. Derrota esmagadora. Humilhante até. Ainda não perceberam isso?