quarta-feira, agosto 11, 2010

Ainda a energia (2)


Fábrica da Enercon, em Viana do Castelo


O nosso leitor António Cordeiro insiste em desvalorizar o sucesso energético português relatado pelo New York Times. Eis o que nos diz:
1. Relativamente à criação de emprego, a referência ao pequeno número de empregos criados, que ninguém refere que não sejam importantes, resulta das expectativas que são criadas e depois a realidade. Na apresentação da “Estratégia Nacional para a Energia – ENE2020” 1 foi prometido a criação de 121.000 novos postos de trabalho “….Criar riqueza e consolidar um cluster energético no sector das energias renováveis e da eficiência energética, criando mais 121.000 postos de trabalho…” que a Resolução do Conselho de Ministros n.º 29/2010 explicita “…iv) Criar riqueza e consolidar um cluster energético no sector das energias renováveis em Portugal, assegurando em 2020 um valor acrescentado bruto de 3800 milhões de euros e criando mais 100 000 postos de trabalho a acrescer aos 35 000 já existentes no sector e que serão consolidados. Dos 135 000 postos de trabalho do sector, 45 000 serão directos e 90 000 indirectos. O impacto no PIB passará de 0,8 % para 1,7 % até 2020; v) Desenvolver um cluster industrial associado à promoção da eficiência energética assegurando a criação de 21 000 postos de trabalho anuais…”
2. O problema não é unicamente o facto de o custo da energia ser mais elevado e de o preço ter subido 15% nos últimos 5 anos “…Portuguese households have long paid about twice what Americans pay for electricity, and prices have risen 15 percent in the last five years, probably partly because of the renewable energy program, the International Energy Agency says…”, mas de não ter sido explicado claramente aos portugueses o motivo, como refere o documento da IEA “It is not fully clear that their costs, both financial and economic, as well as their impact on final consumer energy prices, are well understood and appreciated.”. A explicação que o governo deu para o aumento do custo da energia residia no “deficit tarifário”, mas segundo IEA o motivo é diferente. Convém recordar que devido ao acordo do mercado ibérico de energia eléctrica quando vendemos (ou “saldamos” como ocorreu no excesso de produção renovável de Janeiro 2010) energia aos espanhóis estamos a vender a um preço que é subsidiado por todos os consumidores, e isto também nunca foi explicado.
Podemos contra-argumentar?
1. Quanto à criação de emprego, o leitor apresenta uma "contradição" entre a realidade e a Estratégia Nacional para a Energia 2020. Ora, tal Estratégia foi aprovada pelo Governo no primeiro semestre deste ano e, tal como o nome indica, é um programa a 10 anos. Estar a fazer balanços ao fim de três meses é, parece-me, um tanto exagerado. De qualquer forma, os resultados da Estratégia anterior estão à vista, também no que diz respeito ao emprego. Basta atentar no exemplo da Enercon, que criou 2000 postos de trabalho directos. A aposta na energia, nomeadamente na sua vertente industrial/exportadora tem de ser de longo prazo, mas já começa a dar resultados.
2. Quanto aos custos da energia, a escolha é clara: ou vamos continuar a importar combustíveis fósseis e agravar assim o nosso endividamento; ou começamos a apostar na produção integral interna, com tudo o que isso representará, não apenas de poupança, mas de estímulo para a economia nacional. Clarinho como a água.

5 comentários :

Anónimo disse...

1 - A fábrica da Enercon acabará por fechar bem antes desses 10 anos. Porquê? Porque o limite de instalação de turbinas eólicas está praticamente atingido (isto mesmo admitindo que a substituição das mais antigas ainda dará algum trabalho). A ver se esses 2000 empregos perdidos entrarão no balanço.

Nota à parte: A energia enviada para Espanha, heroicamente dada como "exportada" foi-o a custo zero, algo que ocorreu de noite quando a produção eólica era superior às necessidades nacionais. Espanha aceitou-a de bom grado, os promotores do parque recebem o mesmo, a população portuguesa subsidiou-as directamente.

2 - Produção integral interna é uma miragem. A eólica que representa a maior fatia já está no limite, a solar é um grande erro por ser cara nos moldes da central de Moura e a biomassa é ainda existente se bem que tem margem para progredir; mas repito: produção integral interna é uma miragem antes de 2020. Se não é miragem façam contas ao custo da energia e publiquem. Serviço público.

A boa vontade não chega.

Anónimo disse...

contabilizem também a produção de torres eólicas, da martifer e da silva matos, por exemplo.
para os do contra, uma questão: era melhor estar tudo como antes, não é?
pode sempre fazer-se melhor, pelo menos em teoria. mas o que este pessoal do contra proclama é que mais valia estar quieto e isso revela manifestamente má-fé. o habitual nas pessoas que passam o dia com o cú sentado.

João Magalhães disse...

Oh caro anónimo, nunca pensei que estivesse tão fora do assunto: as várias componentes de eólica que a Enercon produz são para EXPORTAÇÃO. Não faz sentido dizer que a capacidade de instalação de turbinas está quase esgotada (também gostava de saber onde foi buscar essa ideia, mas já vi que não vale a pena).

xicoribeiro disse...

Os anti-eolicas como é facil de advinhar são os habituais pontas de lança do NUCLEAR e anti-Governo.

J. Magalhães tem razão quando afirma que a maioria das eolicas são para exportação. Posso confirmar pois vivo paredes meias com a fabrica e sei que assim é.

Como sabemos a conjuntura economica mundial não favorece uma maior expansão desse produto, mas tem futuro por muitas dezenas de anos.
Há portugueses que fazem juras para que nada resulte em Portugal. E esses estão entre eles.
São parias,sobreviven sugando o sangue dos que querem o melhor para Portugal.Emigrem.

Anónimo disse...

A instalação de aerogeradores eolicos em território Continental está quase esgotada por uma questão de rendimento das turbinas. Para se tirar o maior rendimento das turbinas eolicas a componente vertical da velocidade do vento deve ser a menor possivel. Para isso acontecer a instalação deve ser em "campo aberto" ou em off-shore onde não existem obstaculos á velocidade do vento. Essa pode ser uma das razões para o esgotamento do potencial eolico. Pode-se recorrer ao off-shore, mas aí temos algumas limitações. A costa Portuguesa "afunda" muito rapidamente o que torna dificl a sua instalação (ao contrário do mar do Norte, que se mantem á mesma cota por grandes areas), mas existe uma faixa limitada de costa (julgo que entrw a Figueira e Espinho) onde se poderia instalar. a costa Algarvia tem condições, mas aí o turismo vai falar mais alto e argumentar que "ninguem vai pra praia com aquelas coisas ao largo". Estas são algumas das razões.

Outra coisa, não entendo como a EDP compra turbinas á VESTAS em vez de comprar á ENERCOM. Mas isto tem gato escondido com rabo de fora.
Cumprimentos

Ass: R. Romão